Do trono ao cordeiro imolado, do branco ao escarlate, do 3,5 ao 144.000 - passando pelo famigerado 666.
Rojas afirma que, no livro do Apocalipse, São João usa os símbolos para nos fazer compreender alguns aspectos da Revelação divina. O autor do Apocalipse apresenta um mundo que foge à lógica e à experiência humana – e são incontáveis os estudos de exegetas que tentaram “traduzir” as mensagens do Apóstolo.
SÍMBOLOS
Entre os símbolos evocados por João, a dicotomia Céu-Terra indica espaços onde se desenvolve a liturgia e a luta entre o bem e o mal; o trono representa Deus; o Cordeiro em pé, imolado, é Cristo, morto e ressuscitado; os vinte e quatro anciãos são a totalidade que louva a Deus; um rolo com sete selos é o plano de Deus para a história e para a humanidade; o lago é um símbolo negativo: o lugar da rejeição de Deus.
ANIMAIS
Em Apocalipse 4,6-7, João cita quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por trás. O primeiro ser se assemelhava a um leão; o segundo, a um bezerro; o terceiro tinha aspecto como de homem; o quarto era semelhante a uma águia que voa. Os quatro seres viventes têm seis asas cada um e, ao seu redor e por dentro, são constelados de olhos. Estes seres vivos representam a Criação, a vida que flui de Deus. Cada animal simboliza a sua qualidade fundamental: o leão, a realeza; o touro, a força; a águia, a velocidade e a altura. Já um animal negativo como o dragão evoca o poder terrível do mal.
CORES NUNCA ALEATÓRIAS
João não vê a realidade em preto e branco, e não é casual o uso de uma cor em vez de outra. O detalhe cromático nas descrições revela o desejo do autor de expressar através das cores uma forte carga emocional. O autor pinta um universo caracterizado principalmente por cinco cores. A chave de interpretação das cores é determinada pela sua utilização no conjunto da obra. Os atributos que acompanham os personagens e a sua relação com o bem e o mal nos propõem uma forma de interpretar essas cores.
- CORES POSITIVAS: Os tons positivos são o branco, simbolizando a transcendência e a vitória do Ressuscitado e dos que triunfam com Ele, e o dourado, o ouro puro, reservado por João à liturgia, a fim de simbolizar a proximidade do mistério divino.
- CORES NEGATIVAS: Três outras cores representam a face negativa da história: o vermelho escarlate simboliza o demoníaco e o violento (por exemplo, o dragão); o verde amarelado representa a fragilidade da vida; e o preto indica a miséria, as ameaças e a injustiça social.
OS NÚMEROS
O número mais presente em todo o livro e o preferido pelo autor é o sete, que simboliza a totalidade, a plenitude, na esteira das tradições religiosas ancestrais. É, portanto, bastante lógico que o três e meio, metade do sete, indique a parcialidade e a transitoriedade. Um período de três anos e meio, por exemplo, é um tempo definido e concreto, que tem um fim certo. O número quatro, que indica os quatro seres viventes, é o número da totalidade cósmica e da ação universal de Deus, posta em prática por meio dos anjos que provêm dos quatro ventos.
666
O número seis foi o que provocou o maior debate desde os inícios. A sua relação com o número da besta e o convite enigmático ao vidente para decifrá-lo deu origem às mais diversas interpretações. Destaque-se o texto seguinte: “Eis a sabedoria. Quem tem entendimento calcule o número da besta: é número de homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13,18).
A modalidade de interpretação mais antiga desse número é conhecida pelo nome de “gematria”, uma antiga arte com a qual, através da análise numérica de um texto ou de uma simples palavra, tentam-se deduzir leis e correspondências. A cada letra corresponde um valor numérico; por exemplo, A tem o valor 1 e Z vale 900. Aplicar a gematria ao número 666 significa descobrir um nome cuja soma das letras, hebraicas, gregas ou latinas, corresponda a esse valor. Com a gematria, vários nomes foram “calculados” e a besta foi identificada com diversos personagens históricos. Ao longo dos séculos, as interpretações da simbologia numérica 666 fizeram jorrar rios de tinta e sugeriram figuras históricas de todos os tipos, de Nero a Stalin, passando por Domiciano, Hitler, Martinho Lutero e até cada papa reinante, só para citar alguns.
Atualmente, a interpretação mais aceita é a que vê o número 6 como defeituoso, como uma “imperfeição clamorosa”; o símbolo, portanto, seria uma forma de manifestar que a besta é vulnerável.
12 e 1.000
O número doze indica plenitude, mas com certa nuance social: designa o povo de Deus representado no passado pelas doze tribos de Israel e no presente pelos doze apóstolos do Cordeiro. A sua soma simboliza a plenitude da revelação de Deus na história: assim, o Antigo e o Novo Testamentos são representados, juntos, pelo número vinte e quatro. Já o número mil indica a totalidade divina e a plenitude da ação de Deus. O tempo é sacralizado graças à presença e à ação de Cristo.
144.000
Até as operações matemáticas são importantes para a compreensão de algumas cifras. Por exemplo, 144.000, o famoso número dos salvos, pressupõe a operação 12 × 12 × 1000, ou seja: o povo de Deus na sua totalidade (doze vezes doze), guiado no tempo (1000) pela plenitude da ação salvífica de Cristo.
Terça, 03/05/2016 - Aleteia / Gelsomino Del Guercio